segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Segurança x Esporte de Alto Rendimento: Somos tão incompatíveis assim?

Durante essa semana eu estava fazendo algumas pesquisas num terminal da Bloomberg. Diferente do que devem estar pensando, o objetivo da minha pesquisa não era econômico, mas sim esportivo. Lendo algumas notícias sobre as Olímpiadas de Inverno uma me chamou a atenção: A morte no Luge Olímpico não Deveria Surpreender Ninguém (by Scott Soshnick)
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Resumindo e traduzindo algumas passagens o texto mostrava como, da forma como as coisas caminham no esporte, onde o extremo já não era mais extremo o suficiente, inevitavelmente alguém iria acabar morrendo. Era inevitável. Um dia depois, uma competidora de Luge (a australiana Hannah Campbell-Pegg) foi extremamente feliz nos seus comentários, quando disse "Eles estão forçando demais" não deixando muito claro se falava do comitê olímpico ou dos técnicos; "...somos apenas pequenos lemmings que eles apenas atiram em uma pista como bonecos de crash-test? Eu digo, essas são as nossas vidas."

Shaun White, snowboarder norte-americano assumiu "Eu estava com muito medo. Eu nunca admiti isso, mas eu estava com medo de fazer essa manobra" pouco depois de executar o chamado "Flying Tomato", onde executa um giro de 1260 graus. Por que executá-la? Simplesmente porque quando o público já se acostumou com você fazendo 900 graus, eles querem 1080, depois 1080 com um twist, no hands, com a base trocada...e por que não 1260 graus? O desejo do público por mais perigo força o atleta a limites cada vez mais insanos.

Vamos trazer esse pensamento para nossa área. Quando assistimos a jogos antigos de Football, não necessariamente em preto e branco, muitas vezes ficamos entediados. O jogo era mais lento, os atletas não eram tão fortes, a necessidade de ter um corpo praticamente perfeito e moldado para o esporte inexistia. E isso não nos interessa mais. Queremos Dawkings, Urlacher, Reed, Lewis. Big Hits!

Essa passagem imediatamente me levou a refletir sobre um assunto que vem sendo discutido na NFL e foi tema de acaloradas conversas na lista RedZone poucos meses atrás, que é a questão de vetar o uso de helmets na NFL. Não entendeu? Eu repito. TIRAR OS CAPACETES! Absurdo? Depende do ponto de vista.

A sociedade médica especializada é enfática quando diz que o uso dos capacetes evita sim uma concusão que poderia levar à morte de um jogo dentro de campo. Porém, o perigo maior não é uma única pancada forte que leve a esse final tráfico. O inimigo é insivível e paciente. Lento e letal. O dano cerebral não é necessariamente o resultado de algum trauma específico, mas do acúmulo de centenas de aparentemente inócuos golpes na cabeça.

O grande problema é que não existe NENHUM helmet que consiga fazer com que o cérebro deixe de receber uma série de pequenos impactos. Em termos práticos: para ser certificado para venda um helmet deve possuir um "severity index" de 1.200, de acordo com testes feitos pelo National Operating Committee on Standards for Athletic Equipment, ou Nocsae. No entanto, os prórpios médicos da Nocsae concordam que, para prevenir perfeitamente as concusões, os helmets deveriam ter um índice de 300, ou seja, 4 vezes mais fortes! A forma de fazer isso? Aumentando o tamanho do helmet, o que é impraticável pois simplesmente transferiria a lesão para o pescoço e para a coluna.

As opiniões dos jogadores divergem. Todos concordam que as necessidades do esporte empurra o atleta a ser cada vez mais agressivo e, porque não dizer, inconsequente com sua saúde física. No entanto, retirar os helmets alteraria demais a dinâmica do jogo. Basicamente, não estaríamos mais assistindo Football. Melhor ou pior do que um dano cerebral irreversível? Acredito que o início do meu texto responda muito bem essa questão.

Com o crescimento do esporte no Brasil e a importação dos materiais de proteção tendo um boom em 2009 e início de 2010 essa questão voltou a passar pela minha cabeça. O fato indiscutível é que o helmet, na mesma medida que reduzem as chances de ocorrer uma morte em campo, dão uma falsa sensação de invulnerabilidade que encoraja os jogadores a colidir com mais força e mais vezes. "Em praticamente todas as jogadas você recebe algum golpe na cabeça." diz Jake Long, OT do Miami Dolphins.

Dessa forma conseguimos, inclusive, justificar uma falsa visual disparidade técnica entre os times brasileiros que jogam full pad há algum tempo dos outros times, que ainda buscam alternativas para adquirir os equipamentos. Quando você não está (pelo menos na sua mente) totalmente protegido, o instito de preservação é natural e os tackles e pancadas ficam, digamos assim, menos plásticos.

Uma das medidas que eu acredito que já tinham que ser tomadas, especialmente para times que estão fazendo amistosos e Bowls "no pad", é proibir os 3 pontos na linha ofensiva antes das jogadas. Julian Bailes, neurocirurgião americano que conduziu uma série de pesquisas sobre o assunto defende essa idéia dizendo que essa regra iria prevenir que os jogadores avancem inicialmente com suas cabeças.

Para não dizer que não falei das flores, e voltando ao início desse longo texto, mais uma vez voltamos à questão da paixão e do espetáculo contra o prudente e saudável. O esportista sabe onde está se metendo quando resolve entrar de cabeça (perdão pelo trocadilho infame) em algo. A NFL teve seu alicerce na idéia de que jogadores podem correr na direção uns dos outros a altas velocidades sem nenhuma consequência. É a mesma idéia que fez a NASCAR tão popular nos Estados Unidos. No final das contas, os jogadores e suas famílias fazem uma escolha entre correr o risco de futuros problemas neurológicos ou apreciar o esporte nos estádios, torcendo. "Sem os helmets eles não bateriam suas cabeças tantas vezes em jogadas estúpidas" diz P. David Halstead, diretor técnico da Nocsae, "mas sem os helmets, o jogo não seria football".

Aos jogadores e técnicos do F.A. nacional, apenas uma sugestão/apelo: esperamos muito para termos os equipamentos. Não se apressem agora para sair jogando o quanto antes. Uma preparação e adaptação bem feita e coordenada por profissionais da área médica e de educação física pode ser o divisor de águas entre apenas sentirmos dores fortes ou enterrarmos um amigo na segunda-feira de manhã.

[Thiago Uruk]

5 comentários:

  1. É isso ae criançada!
    Bater Facemask com Facemask é legal mas vamos nos lembrar que debaixo dos helmets e shoulders ainda temos osso, tendões e órgãos frágeis.
    Preserve a si mesmo e ou atleta ao seu lado (do seu time ou não) e jogaremos FA ainda por muito tempo!


    Tiago Sousa TE #45 ABC Corsários

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  2. Ótimo post!!
    todos deveriam ler...
    abraço,
    Football Lover

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  3. grande abração ae pessoal...e vlw pela grande parceria com a rádio popmix. abração a todos do ABC.

    Maiquel Oliveira
    Apresentador EndZone

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  4. Muito bom post. Acho que esse assunto deveria ser discutido amplamente, não para criar polêmica, mas para todos terem conhecimentos de certas estatísticas, experiências e opiniões.

    Go CORSÁRIOS!

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