quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

A paixão pelo esporte falando mais alto


"...Chato, ranzinza e turrão..." 
    É com essas três palavras que Thiago "Uruk" Ururahy de Oliveira Corrêa, 27 anos, torcedor do NEW ORLEANS SAINTS, e Técnico do ABC CORSÁRIOS se define. Em entrevista ao blog ele falou sobre o time, futebol americano e sua vida dentro do esporte.

ABC Corsários - Como conheceu o Futebol Americano?
Uruk - Logo que eu entrei na USP, em 2002, alguns amigos que fiz lá me convidaram para assistir o Super Bowl na casa de um deles. Foi o primeiro contato direto com o esporte e paixão à primeira vista.

Qual é seu tempo de conhecimento do esporte?
Assistindo, desde o Super Bowl de 2002 (Raiders e Bucs). Estudando há cerca de 5 anos.

E há quanto tempo pratica o Futebol Americano?
Pratico há aproximadamente 4 anos, a maioria desse período apenas como jogador e capitão de defesa.

Como começou o seu trabalho como "Head Coach"?
Durante uma breve passagem pelo São Paulo Storm, uma velha lesão no ombro esquerdo voltou a me incomodar. Eu já tinha o plano de, em 2 ou 3 anos, largar os campos e me dedicar aos estudos e ao trabalho como coordenador, mas a lesão adiantou isso. Veio o convite do Peixe (coordenador ofensivo do Storm) para que eu ficasse como auxiliar no mesmo momento em que algumas pessoas estavam colocando o projeto do Corsários para andar. Resolvi abraçar o que me pareceu ser o desafio maior. E aqui estamos.

Teve algum apoio para seguir adiante?
Todas as pessoas que hoje são a atual Diretoria do ABC Corsários foram cruciais. Principalmente nos momentos iniciais de um time é normal ter dúvida se aquilo vai chegar em algum lugar, mas eles foram realmente parceiros e me botaram pra trabalhar forte. O resultado vem sendo muito gratificante.Outras pessoas que eu não posso esquecer são os antigos parceiros de Werewolves. Destaco aqui o Vagão (Spartans) e o Kosiski (Storm), que são caras que eu sei que torcem muito para que o ABC Corsários se fixe como uma grande força do FA em SP.

Como e quando surgiu o ABC Corsários?
O Corsários antes de um time é um projeto, tanto que muitas das coisas que planejamos ainda mal saíram do papel, como criação de um projeto social contra a obesidade infantil, inclusão de jovens carentes, etc. Mas, o início de tudo se deu através do time ABC CORSÁRIOS FUTEBOL AMERICANO, que foi criado com o intuito de dar uma saída organizada e desenhada em moldes empresariais para os jogadores da região do ABC que não aceitavam o fato da região ser uma potência secundária (ou até terciária) dentro do Estado. A população do ABC é crescente, assim como os recursos e o tipo de empresas que temos hoje gerando riqueza. O nível de vida da população aumentou nos últimos anos e não fazia sentido que, por mera falta de organização e de um projeto sério, a região seguisse no ostracismo com relação ao F.A. nacional. Quando eu digo sério, digo sem egos, sem visão de lucros, sem sentimento de posse e com pessoas com capacidade administrativa.

Se espelhou em algum time para montar o seu?
Com relação à seriedade do trabalho, sem dúvida o São Paulo Storm. Em partes também com relação à divisão empresarial que eles possuem. Mas a questão não é apenas citar os pontos positivos. Todos os Diretores do Corsários e eu já passamos por uma série de times. Na pior das hipóteses você vê erros que não quer repetir, e isso é um aprendizado muito importante.

Pretende se manter a frente do F.A. por algum tempo determinado?
Enquanto meu cérebro for capaz de continuar aprendendo. O esporte tem que ser uma das coisas mais importantes na vida das pessoas, por tudo que ele ensina e acrescenta seja na saúde, moral e convivência social.

Em quem você se inspirou para se tornar H.C.?
Rex Ryan, sem dúvidas.

Como foi largar praticamente a vida de jogador para ir para a side line?
Foi doída, viu...hahaha. Mas o sacrifício era necessário. Não é aceitável, em um projeto ambicioso como o ABC Corsários, que uma pessoa divida duas funções táticas (jogador e técnico) ou até mesmo que cuide da parte "dentro de campo" e do "extra campo" ao mesmo tempo. O modelo do time pede essa separação para que eu possa dar foco no que é importante. Hoje eu estudo muito mais, leio muito mais, assisto muito mais vídeos, etc. A vivência como jogador de defesa me trouxe uma facilidade para falar a língua que o jogador sabe ouvir e me preparar, como Coordenador Ofensivo, para tudo que uma defesa pode apresentar. Mas nos treinos, quando chegamos quase no final eu me arrisco a entrar em campo também...hahaha.

Como você compara o Futebol Americano lá fora e dentro do Brasil?
O Brasil precisa encarar o F.A. de duas formas: a primeira é não ter vergonha nenhuma de ser um esporte amador. Amador não significa de segunda categoria. A segunda é não ter a velha síndrome de vira-lata. Claro, nunca chegaremos a ter algo próximo da NFL no Brasil, até pelo modelo educacional do país, mas temos totais condições administrativas e de qualidade técnica e tática para sermos os melhores da América do Sul e bater de frente com México e Europa.

Já viajou para outro país por experiência ao esporte? Tem vontade?
Ainda não. Vou viajar para os EUA ainda no primeiro semestre e pretendo trazer mais alguns livros, agora específicos para as questões táticas dos jogos. Como minha atividade profissional é intensa [Uruk é bancário e analista do mercado financeiro] eu estou desistindo de um projeto antigo, que era passar uma pré-temporada em uma Universidade de ponta da NCAA. Fora isso, apenas viajar para acompanhar os jogos do Saints na próxima temporada.

Mais ou menos quantas horas vc gasta por dia, semana ou mês estudando sobre F.A.?
Em média 3 a 4 horas por dia. Entre ler, montar playbooks, conversar com os jogadores fora dos treinos, assistir jogos e planejar os treinos. Na semana isso é somado ao tempo dos treinos em si e só.

Como é sua base de estudos?
Ela foi evoluindo com o tempo. Num dado momento vídeos de outubro ou até de sites especializados deixaram de agregar conhecimento, ou agregavam muito pouco. Então eu passei a beber na fonte primária do conhecimento de FA: os técnicos e ex-técnicos da NFL. Trouxe uma série de livros da Associação dos Técnicos de Futebol Americano (AFCA, na sigla em inglês) diretamente dos EUA e tentei manter algum contato com os coachs das Universidades menores de lá. Consegui algum material assim, que complementaram muito o que hoje nós já conseguimos na Internet. Na questão física eu dei a sorte de morar com um fisiologista cujo campo de estudo está focado na fisiologia do movimento esportivo (meu irmão). Ele me explicou uma série de necessidades musculares que cada posição deveria ter e, a partir de então, selecionei os drills que trariam retorno mais rápido nos treinos.

Como é feito o trabalho semanal, com todas dificuldades de seu emprego atual?
Nessa hora o amor pelo esporte tem que falar mais alto. Durante o dia meu contato é bastante restrito com os Diretores e os membros da Coordenação Técnica. Basicamente postamos alguns comentários no Fórum e mantemos a discussão nesse nível. À noite, quando eu volto para casa, minhas primeiras horas são dedicadas a receber qualquer repasse que a Direção tenha para me dar. A partir daí inicio meu solitário trabalho de estudos. Eu sempre dormi pouco, então só vou pra cama mesmo por volta de 1 hora da manhã.
Mas, novamente, eu friso a estrutura do Corsários. O corpo diretivo é segregado por assuntos e cada um cuida especificamente do que lhe diz respeito. A competência dessas pessoas é tão grande que assuntos que nos outros times que passei eram um "cavalo de batalha" aqui são resolvidos em questão de poucas horas. Tudo democrático, porém, direcionado para quem tem que resolver cada assunto. Se em nenhum momento eu quiser me envolver em questões "extra campo", me limito a estudar, analisar os jogadores e os planos técnicos e táticos. Se os uniformes foram lavados, se o site está no ar, se o amistoso foi marcado, se o caixa está baixo, etc...com essas coisas eu nem me preocupo.

Já pensou em atuar nas demais modalidades do F.A., por exemplo o Flag, como HC? E como jogador?
Nunca joguei flag, mas pretendo. Porém, não como técnico, apenas como jogador. Se o flag entrar realmente no currículo de Educação Física das escolas (aproveito para citar aqui o brilhante trabalho que o professor Claudio Telesca vem tentando desenvolver em SP), nesse caso eu cogito fazer um curso de Educação Física para poder atuar como técnico.

Já pensou em lucrar algo com o esporte?
Nunca. Os que tentaram fazer isso se deram mal e não é por menos. O esporte engatinha no Brasil. Talvez, com o trabalho que as Ligas Regionais fizeram em 2009, tenhamos dado nossos primeiros passos em pé. Mas ainda é muito cedo. Eu costumo dizer, com o perdão da palavra: "Hoje nós estamos aqui nos fodendo, nos arrebentando, gastando dinheiro do nosso bolso e tempo das nossas vidas por um único motivo: a esperança de que, talvez, os nossos netos joguem um campeontato de Futebol Americano organizado em nível nacional. Estamos trabalhando de graça hoje para que, talvez, no futuro, as Universidades e os Governos tenham programas de Futebol Americano, seja de alto rendimento ou como ação social." Essa é a única gratificação que a nossa geração deve esperar.

Quais são as suas metas para o Futebol Americano?
Tenho duas muito claras: ver alguns dos jogadores que eu ensinei a lançar uma bola, fazer 3 pontos ou dar tackle sendo destaque na Seleção local ou brasileira e tornar o ABC Corsários um exemplo empresarial, com sede, campo, material e todo o suporte necessário para a prática esportiva.

Um recado para os adversários?
Se desdobrem para estudar tudo o que há no Futebol Americano. Porque o Corsários será pioneiro em muitas coisas dentro de campo.

Agradecimentos?
Agradeço aos Diretores, citando mais uma vez a competência de todos e, principalmente, aos jogadores atuais do ABC Corsários. Eu sei da dificuldade pessoal de cada um, e o esforço deles será recompensado.

[Alex Moura]

12 comentários:

  1. Muito bom, adoro o F.A., esse cara é um exemplo. sem mais.

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  2. O Muricy do futebol americano hehe.
    Aprendi muito com ele.


    #16 Diel

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  3. E como uma criança de 5 anos eu digo .. - é o meu coach é o meu coach ... uAHEUHAuehuAEAHEUAHeuh

    Eloir #20

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  4. Esse é o menino do Rio! ahsduahsd :D

    Livia

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  5. Ele tem razão enquanto ao chato, ranzinza e turrão, mais eu gosto desse rapaz!!!

    KIMONO VERMELHOOOO!!!

    MOURA #60

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  6. Faltou só dizer que é fanatico pelo New Orleans Saints.


    Lesiw

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  7. ESTE É O CARIOCA MAIS PAULISTA QUE JA CONHECI!!
    AGRADEÇO A ELE E O DOUG POR ESTAR NA MODALIDADE HOJE EM DIA, E PRINCIPALMENTE FAZENDO PARTE DO TIME QUE VAI SER O MELHOR DA AMERICA DO SUL NO FUTURO PROXIMO!!!

    ABS

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  8. Comecei a treinar com ele, grande pessoa, grande mentor , me ensinou o pouco que sei !!!
    Grande Uruk !!!!

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  9. Grande abração para ti Tiago, nós aqui do Bagé Baguals e da Rádio PopMIx estamos a disposição para o que o ABC corsários precisarem.
    É uma honra ter novos amigos como vocês.
    abração a todos!!

    Maiquel Oliveira
    Apresentador - EndZone

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  10. Gostaria de saber como faço pra treinar com vcs?

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